terça-feira, 23 de abril de 2013

E Gene Sharp Não Falou do Occupy Wall Street - Capítulo 3 - Além do Filme

A lista completa dos 198 Métodos é apresentada no ‘TARA - There Are Realistic Alternatives’ (para a violência), que pode ser baixado na Internet. Definições e exemplos dos métodos aparecem em ‘The Politics of Nonviolent Action’, Part Two, ‘The Methods of Nonviolent Action’.

No Appendix Two do ‘TARA’ Gene Sharp em 10 páginas enumera e lista, explicando terem sido usados os métodos em instâncias históricas de lutas não convencionais. Todos os Métodos e os que serão inventados no futuro têm características de três classes e seus grupos:

(1) Protestos e Persuasão Não Violentos

Colocações Formais (destacam-se discursos, cartas, petições); Comunicações com Uma Audiência Mais Ampla (slogans, caricaturas, símbolos, panfletos, livros); Representações de Grupos (delegações, lobbys, piquetes); Atos Públicos Simbólicos (portar bandeiras, símbolos, cores, destruição da própria propriedade); Pressões sobre Indivíduos (incomodar oficiais, vigílias); Dramas e Músicas (performances e músicas humorísticas); Procissões (marchas, peregrinações, carreatas); Honrarias aos Mortos (lamentações públicas, funerais de mentira, homenagens em cemitérios); Assembleias Públicas (de protesto, de suporte, encontros camuflados, aulas públicas); Retirada e Renúncia (saídas, renúncia a honrarias, voltar as costas, fazer silencio).

(2) Não Cooperação

(2.1) Não Cooperação Social 

Ostracismo de Pessoas (boicote social); Não Cooperação com Eventos Sociais, Taxas, Instituições (eventos esportivos e sociais, greves estudantis, desobediência social, retirada de instituições sociais); Saída do Sistema Social (ficar em casa, revoada de trabalhadores, imigração em protesto (hijrat)).

(2.2) Não Cooperação Econômica: Boicote Econômico

Ação Por Consumidores; Por Trabalhadores e Produtores; Por Intermediários: Por Proprietários e Gerentes; Por Detentores de Fontes Financeiras (destacando-se retirada de depósitos bancários, recusa de pagamentos, recusa de aceitação de moeda governamental); Ação Por Governos (destacando-se embargo, lista negra de comerciantes, embargos internacionais a vendedores, compradores e ao comércio).

(2.3) Não Cooperação Econômica: Greves

Greves Simbólicas; Agrícolas; De Grupos Especiais (destacando-se prisioneiros, profissionais, serviços gráficos); Greves Comuns da Indústria; Greves Restritas (operação tartaruga, reportar doenças); Greves Multi-industriais (greve geral).

(2.4) Não Cooperação Política

Rejeição de Autoridade; Não Cooperação do Cidadão com o Governo (destacando boicote legislativo, boicote de eleições, de agencias, retirada de instituições educativas do governo, recusa de assistência, remoção de placas e sinais de identificação, recusa de aceitação de agentes nomeados, recusa de dissolver instituições); Alternativas do Cidadão à Obediência (obedecer com lentidão, não obediência na ausência de supervisão, recusa de reunião para dispersar, sentar-se, esconder-se, escapar, usar a clandestinidade, desobediência civil a leis ‘ilegítimas’; Ação Por Pessoal Governamental (bloqueio de linhas de comando e informação, obstrução, não cooperação judicial, deliberada ineficiência, motim); Ação Por Governos Locais (destacando não cooperação de unidades, evasões e demoras quase legais); Ação Governamental Internacional (mudança de diplomatas, restrição de relações diplomáticas, saída de organizações internacionais, recusa de tornar-se membro, expulsão).

(3) Intervenção Não-Violenta 

Intervenção Psicológica (jejuns, pressão moral, assédio não violento); Intervenção Física (sentar-se, levantar-se, rezar, cantar, invasão não violenta, ocupação, obstrução, interpelação não violenta); Intervenção Social (sobrecarregar facilidades, instituições alternativas, sistemas alternativos de comunicação,(No Egito e Síria, o Facebook por exemplo)); Intervenção Econômica (compras impeditivas, dumping, mercados alternativos, sistemas econômicos alternativos (exemplo o bitcoin), sistemas de transporte alternativos); Intervenção Política ( sobrecarregar sistemas administrativos, revelar identidade de agentes secretos, buscar o aprisionamento, governos paralelos)

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Esse resumo ficou um pouco extenso. O objetivo foi o de permitir uma compreensão completa do conjunto do trabalho de Gene Sharp e seus auxiliares, e da sua inserção nos momentos que vivemos na política internacional.

Para finalizar cabem algumas constatações e sugestões. São sinceras as posições de Gene Sharp, de Jamila Raqib, e talvez até de Bob Helvey. Mas o próprio filme evidencia o seu aproveitamento pelos EUA para fins geopolíticos.

Os EUA detêm hoje o recorde de ignição de “revoluções”, onde buscam obter mudanças geopolíticas positivas para os seus fins, embora às vezes desastradamente consigam o contrário. Sempre se pode facilmente impulsionar essas revoltas, se há descontentes. Jornalistas especializados têm feito análises reportando que, quando pacíficas essas revoltas têm custos de 20 até 120 milhões de dólares, tendo ficado evidente o suporte de grandes potencias imperiais na sua alimentação. Os EUA tornaram-se o único país com direito de exportar a democracia e a liberdade, e o fazem às custas da impressão privilegiada da moeda mundial, o dólar,  pelo FED, indo as contas ao final para o resto do mundo. Quem mais poderia suportar esses dispêndios para intervir na casa dos outros? Os resultados ao longo de decênios têm sido às vezes desastrosos, apenas semeando inimigos dos EUA e do Ocidente, em todo o mundo. Pois se, assumindo o lugar de um deus (aquele que dá), os EUA apoiam um lado irmão ou primo contra o outro, que sem essa dádiva de apoio seria derrotado, o lado perdedor alimentará futuros ódios pelos decênios vindouros. Não foi outra coisa que aconteceu na Coréia, no Vietnam, na China, na Palestina, no Iraque, no Afeganistão. Dá assim para mostrar que os EUA são uma nação com excesso de recursos, e estratégia geopolítica às vezes obtusa, quase sempre conduzindo a prejuízos para as outras nações e até para si próprios e o Ocidente identificado com o seu império.

Gene Sharp demonstra ser um grande e sincero libertário. Talvez um neoliberal ou até um neoconservador, imbuído ainda da ideia da Excepcionalidade Americana. Dá lugar às vezes ingenuamente a um intervencionismo internacional. Para esse entretanto o mundo não está preparado, e não estará, enquanto internacionalismo significar o poder de impérios, mesmo que multinacionais.

Assim, por que não sugerir à Academia Sueca que, recompondo-se de tantos conchavos e falhas, dê o premio Nobel da Paz, ainda que póstumo, a Gandhi, que é realmente meritório. Pode-se também endossar a indicação de Julian Assange, esse realmente um herói dos últimos tempos.

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